Entrando no meio: Como é possível trabalhar sendo um consultor de fauna

Art 2 trabalho com fauna

A consultoria ambiental com foco em fauna é uma das áreas mais dinâmicas dentro das Ciências Biológicas. Esse ramo atua diretamente na interface entre o desenvolvimento de empreendimentos e a conservação da biodiversidade, garantindo que atividades humanas sejam realizadas com responsabilidade ambiental. O consultor de fauna é o profissional responsável por realizar levantamentos, monitoramentos, resgates e análises sobre os impactos que uma obra ou atividade pode causar sobre a fauna silvestre.

Nos últimos anos, essa área tem ganhado destaque no cenário brasileiro devido ao crescimento de obras de infraestrutura, à ampliação das exigências legais em processos de licenciamento ambiental e ao aumento da conscientização sobre a importância de reduzir os impactos à fauna. Com isso, abriu-se um leque de oportunidades para biólogos e profissionais correlatos que desejam atuar diretamente em campo, aplicando seus conhecimentos em contextos práticos e diversos.

O objetivo deste artigo é justamente orientar quem deseja entrar nesse meio: como começar, quais competências são necessárias, onde buscar oportunidades e como se preparar para se destacar como consultor de fauna. Se você tem interesse em trabalhar com a vida silvestre e quer transformar essa paixão em profissão, este conteúdo é para você.

O que faz um consultor de fauna

O consultor de fauna é o profissional responsável por avaliar, acompanhar e minimizar os impactos que atividades humanas podem causar sobre a fauna silvestre. Sua atuação é essencial em projetos que envolvem supressão de vegetação, movimentação de solo, ou qualquer tipo de alteração em ambientes naturais, garantindo que os animais nativos sejam identificados, monitorados e protegidos sempre que possível.

Entre as atividades mais comuns na rotina desse profissional, estão:

  • Levantamentos de fauna: identificar as espécies presentes em uma área antes de uma intervenção, usando métodos como armadilhas fotográficas, capturas ativas, observações visuais e auditivas.
  • Monitoramento: acompanhar a fauna ao longo do tempo, verificando alterações causadas por empreendimentos ou ações de conservação.
  • Resgate e afugentamento de fauna: ações realizadas durante a supressão da vegetação, para proteger os animais encontrados e direcioná-los com segurança a ambientes adequados.
  • Manejo e translocação: quando necessário, o consultor atua na relocação de animais, sempre seguindo normas legais e protocolos éticos.

Essas atividades são aplicadas em diversos tipos de projetos, como:

  • Obras de infraestrutura (rodovias, ferrovias, linhas de transmissão, barragens).
  • Empreendimentos de mineração, energia e construção civil.
  • Projetos de conservação e recuperação ambiental.
  • Estudos de licenciamento ambiental, onde é obrigatório apresentar dados sobre fauna.

Dentro de uma equipe de consultoria ambiental, existem diferentes níveis de atuação:

  • Consultor técnico (ou especialista de fauna): geralmente é o biólogo responsável pelas atividades em campo e pela produção de relatórios técnicos. Deve ter experiência em identificação de espécies, metodologias de amostragem e conhecimento da legislação.
  • Coordenador de fauna: supervisiona a equipe, garante o cumprimento dos protocolos e é o ponto de contato com o cliente e órgãos ambientais. É um papel que exige mais experiência e visão de gestão.
  • Auxiliar de campo: apoia nas atividades operacionais como montagem de armadilhas, registro de dados e apoio logístico. Embora esse cargo não exija formação superior, é uma ótima porta de entrada para quem está começando.

Trabalhar com consultoria de fauna é atuar diretamente na linha de frente entre a conservação e o desenvolvimento. É um trabalho que exige responsabilidade, preparo técnico e muita dedicação, mas também oferece experiências únicas e um contato próximo com a natureza.

Formação e conhecimentos necessários

Para atuar como consultor de fauna, é essencial ter formação acadêmica compatível, sendo o curso de Biologia o mais comum. No entanto, profissionais de áreas correlatas, como Ecologia, Medicina Veterinária e Gestão Ambiental, também podem atuar, desde que tenham os conhecimentos técnicos exigidos para a função. O importante é estar legalmente habilitado e possuir registro no Conselho Regional de Biologia (CRBio), quando necessário.

Além da formação, o consultor precisa dominar uma série de conhecimentos técnicos específicos, como:

  • Identificação de fauna silvestre, especialmente em grupos como anfíbios, répteis, aves e mamíferos conhecimento essencial tanto para levantamentos quanto para resgates em campo.
  • Legislação ambiental aplicada à fauna, incluindo normas de licenciamento ambiental, autorizações do IBAMA/ICMBio e leis de proteção de espécies ameaçadas.
  • Metodologias de amostragem e monitoramento, como uso de armadilhas fotográficas, pitfall traps, transectos lineares e escuta ativa, sempre seguindo os protocolos exigidos em cada projeto.

Mas não basta apenas dominar a técnica. O campo exige também habilidades comportamentais que fazem toda a diferença na rotina do consultor. Entre as mais importantes:

  • Disciplina, para cumprir protocolos, seguir horários e manter organização em ambientes muitas vezes desafiadores.
  • Comunicação, tanto para trabalhar em equipe quanto para interagir com comunidades locais, gestores e clientes.
  • Resiliência, já que o trabalho em campo envolve longas jornadas, condições climáticas adversas, imprevistos logísticos e muita adaptação.

O equilíbrio entre conhecimento técnico e comportamento profissional é o que forma um consultor de fauna completo  preparado não apenas para executar as tarefas, mas para se destacar no mercado com ética, eficiência e segurança.

Primeiros passos para entrar na área

Se você está começando e deseja atuar como consultor de fauna, saiba que a entrada nesse mercado depende, principalmente, de experiência prática e construção de uma base sólida mesmo que ainda não seja profissionalmente formalizada. Existem diversas formas de iniciar essa jornada, e quanto antes você se envolver com atividades ligadas à fauna, melhor.

Um ótimo ponto de partida são os estágios, voluntariados e projetos acadêmicos com foco em fauna. Universidades, ONGs, institutos de pesquisa e até consultorias parceiras de órgãos ambientais frequentemente oferecem oportunidades para participar de projetos de monitoramento, inventários, ou estudos de comportamento e ecologia de espécies. Essas experiências não apenas agregam conhecimento técnico, mas também ajudam a criar contatos valiosos na área.

Outra forma eficaz de ganhar prática é participar de mutirões, expedições de campo e cursos com abordagem prática. Essas vivências, muitas vezes intensas e imersivas, permitem aprender diretamente com profissionais experientes, além de exercitar habilidades comportamentais como trabalho em equipe, organização e tomada de decisão em campo. Cursos de manejo e identificação de fauna, primeiros socorros e uso de GPS, por exemplo, são diferenciais para quem está começando.

À medida que você acumula experiências, é importante montar um portfólio e um currículo direcionado para a consultoria ambiental. Um bom portfólio pode incluir registros de campo (como fotos, mapas, cadernos de anotação), participação em relatórios técnicos ou científicos e até relatos breves de atividades realizadas  sempre respeitando normas de confidencialidade e ética profissional. Já o currículo deve ser objetivo, destacar suas experiências com fauna, cursos relevantes e habilidades adquiridas. Começar na consultoria de fauna exige iniciativa e disposição, mas quem investe nos passos certos logo começa a ser notado. Mostrar que você já está envolvido com a área, mesmo antes de um contrato formal, é uma forma poderosa de abrir portas e conquistar oportunidades.

Como conseguir as primeiras oportunidades

Depois de adquirir experiência básica e montar um portfólio consistente, o próximo passo é buscar formas de entrar de fato no mercado. Conseguir as primeiras oportunidades como consultor de fauna pode parecer desafiador no início, mas há estratégias eficazes que aumentam significativamente suas chances de sucesso.

Comece acompanhando plataformas de vagas especializadas, como o LinkedIn, o site Vagas Ambientais, e grupos de WhatsApp e Telegram voltados à Biologia e consultoria ambiental. Esses espaços costumam divulgar oportunidades de estágio, trabalhos pontuais ou vagas de consultores e auxiliares. Além disso, acompanhar essas plataformas permite entender o perfil de profissional que o mercado busca.

Outra abordagem bastante eficiente é o contato direto com consultorias ambientais, profissionais atuantes e coordenadores de projetos. Não tenha receio de enviar um e-mail educado, se apresentar brevemente, compartilhar seu currículo e/ou portfólio e demonstrar interesse em colaborar com a equipe. Às vezes, as oportunidades não estão divulgadas, mas surgem para quem se mostra disponível e preparado.

Nesse processo, a reputação e o networking têm um peso enorme. Participar de eventos, congressos e cursos na área ajuda a construir relacionamentos e a se tornar visível entre os colegas. Conversas informais, postagens técnicas nas redes sociais e uma postura ética e colaborativa também contribuem para que você seja lembrado e indicado quando surgirem vagas.

Lembre-se: muitas oportunidades na consultoria ambiental não seguem processos formais de seleção. Elas vêm por meio da confiança e da credibilidade que você constrói aos poucos, com cada conversa, cada entrega e cada experiência de campo.

Desafios da consultoria de fauna

Atuar como consultor de fauna é uma experiência rica e recompensadora, mas também repleta de desafios que exigem preparo físico, emocional e ético. Quem está entrando nessa área precisa ter uma visão realista do que envolve o trabalho de campo e da responsabilidade que acompanha cada atividade com a fauna silvestre.

Um dos primeiros obstáculos são as realidades do campo. As condições muitas vezes são adversas: longas horas de deslocamento, terrenos difíceis, exposição ao clima extremo (chuva, calor intenso, frio), insetos, falta de sinal de celular e estrutura básica. Além disso, há uma pressão por resultados   os prazos e as metas de monitoramento em projetos de licenciamento ou obras de grande porte não costumam ser flexíveis. Isso exige organização, foco e resiliência.

Outro ponto crítico envolve as questões éticas e legais na atuação com fauna. É fundamental respeitar a legislação ambiental vigente, possuir as autorizações corretas para coleta, captura e manejo, e jamais utilizar as informações obtidas em campo de maneira irresponsável. O bem-estar dos animais, a preservação dos ecossistemas e o sigilo de dados sensíveis (como a localização de espécies ameaçadas) devem estar sempre em primeiro lugar.

Por fim, existe o desafio de equilibrar a exigência técnica com a segurança pessoal. É preciso saber quando seguir adiante e quando recuar. Reconhecer seus limites, usar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), comunicar-se com a equipe e seguir protocolos pode evitar acidentes sérios. Nenhum dado é mais importante do que a integridade de quem está em campo.

Encarar essas dificuldades com preparo e maturidade é o que transforma obstáculos em aprendizado. Cada desafio superado fortalece o profissional e amplia sua capacidade de atuação de forma segura, ética e eficiente.

Dicas para se destacar como consultor

Em um mercado competitivo como o da consultoria ambiental, principalmente na área de fauna, não basta apenas estar presente  é preciso se destacar pela qualidade, responsabilidade e profissionalismo. Pequenas atitudes no dia a dia podem fazer uma grande diferença na forma como você é visto pelos colegas, coordenadores e contratantes.

A primeira dica é simples, mas poderosa: faça entregas de qualidade com postura ética e confiabilidade. Isso significa cumprir prazos, manter organização nos dados, respeitar protocolos técnicos e agir com transparência. A confiança que você constrói é o que abre portas para futuras indicações e oportunidades.

Outro ponto-chave é a atualização constante. A legislação ambiental está em permanente evolução, e novas metodologias ou exigências técnicas podem surgir a qualquer momento. Investir em cursos, leitura de normativas, artigos científicos e participação em eventos é fundamental para manter sua atuação alinhada com as boas práticas do setor.

Por fim, destaque-se também pela comunicação eficaz. Saber se expressar com clareza e respeito, seja na hora de relatar uma ocorrência em campo ou de conversar com a equipe e o cliente, é essencial ter boa comunicação, isso inclui tanto a comunicação verbal quanto a escrita, como na elaboração de relatórios técnicos e e-mails. Também é importante saber dialogar com órgãos ambientais quando necessário, mantendo sempre a postura profissional e colaborativa.

Consultores de fauna que unem competência técnica, ética, atualização e boa comunicação se tornam referência nos projetos em que atuam. Eles não apenas são lembrados como são requisitados.

Conclusão

Atuar como consultor de fauna é uma jornada que exige preparo técnico, resiliência em campo e, acima de tudo, comprometimento com a ética e com a qualidade do trabalho. Ao longo deste artigo, vimos que essa é uma carreira possível e promissora para quem busca alinhar paixão pela natureza com atuação profissional séria e consistente.

Ser consultor de fauna não depende apenas de sorte ou de estar no lugar certo na hora certa depende de dedicação, preparo contínuo e boas conexões. O caminho pode começar com um estágio, um curso prático, ou uma conversa com alguém da área. O importante é dar o primeiro passo e manter o ritmo com constância e humildade.

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